MATA – MATO – MATA
Em fases anteriores em que a figura estava presente em minha obra, José Bento Faria Ferraz, assim falou: “Mário de Andrade escreveu certa vez que, a arte é filha da dor e filha sempre, de algum impedimento vital; e você, Fúlvia está sempre à procura seja na cor, em busca de um mundo onírico e, ao mesmo tempo doloroso”. Que dor possa cessar, quando nos grafismos de hoje eu me volto para a temática da natureza e me deparo com as agressões do meio-ambiente? As tendências e os sentimentos são os mesmos, hoje o grafismo permanece, não só no pastel como nos empastes das tintas, em revisões “matéricas” anteriores.
Brunilde Rivarola, crítica italiana, assim falou, certa vez, numa de minhas mostras em Milão: “Em suas superfícies os volumes têm material que se torna imaterial como a ressonância de um diapasão em variação prolongando o som to tempo”.
Ermerson Dionísio, comentou sobre a exploração de campos aparentemente opostos, mas que preenchem a antiga promessa de que não há a vida sem a morte.
Etiènne Samain aproxima-se, e muito sobre o que tem ocorrido em meus trabalhos semeaduras plantio, devastação de outros espaços na dinâmica da vida como o sol, por exemplo, na germinação e na colheita das frutas…
Marcos Rizolli salientou que a textura básica das pinturas adquirida pelo uso sistemático da espátula – é o empaste é a sulcagem… A linguagem pictórica, que é broto e embrião, impõe elementos naturais: terra, homem, vegetal, universo, energia… Tudo é tênue, cor, harmonia.
Entre 1966 a 1969, quando eu era jovem, professora da EAP-RP o crítico Tadeu Chiarelli atribuiu-me o papel de elemento-ponte entre professores e alunos da escola de Artes Plásticas de Ribeirão Preto, como pintura que sintetizava e recriava sob a influência de grandes professores, nessa primeira iniciativa para introduzir as vanguardas do século XX no interior paulista.
Fúlvia
A ARTE DE FÚLVIA É O ESPELHO DE SUA PERONALIDADE CONCENTRADA, SÉRIA, ONÍRICA E AFINAL BELA. AO LONGO DE MAIS DE QAUTRO DÉCADAS DE PLENO DOM´´ÍNIO DE UMA TÉCNICA ORIGINAL E INCONFUNDÍVEL, FÚLVIA FEZ ATÉ AQUI UM PERCURSO EM QUE AS FASES SE SUCEDEM E OS TMAS SE EXPANDEM, MAS EM PERDER NUNCA O FIO CONDUTOR QUE LHES DÁ UNIDADE E ORGANICIDADE. HÁ UM NÚCLEO, UMA CÉLULA EMBRIONÁRIA A PARTIR DA QUAL SUA LINGUAGEM SE DESENVOLVE: É A NATUREZA E SUAS FORMAS.
A NATUREZA É POIS, O ELEMENTO MAIS PRESENTE NA OBRA DE FÚLVIA DESDE O PROJETO DO BALÉ DAS ÁGUAS (1971), ACENTUANDO-SE A PARTIR DE 1985 COM VIDA OCEÂNICA (1984) E ENTRANHAS DA VIDA VEGETAL (1985) CULMINANDO, EM 2008, COM A REVELAÇÃO PÚBLICA DA SÉRIE MATA MATO MATA. NATURALMENTE, NO TRANSCURSO, ELA ENVEREDOU POR OUTROS CAMINHOS, COMO NA HISTÓRICA RLEITURA DA MONALISA E NA MAGNÍFICA SÉRIE NO ARQUIVO DAS FORMAS (2003). EM TUDO, PORÉM, O TRAÇO MARCANTE É O DAS FORMAS DA NATUREZA EM SI MESMA OU TRANSFORMADA.
ARTISTA DA OBRA PROGRAMÁTICA, FÚLVIA TRABALHA A PARTIR DE PROJETOS LABORIOSAMENTE COCNEBIDOS, EQUIVALENTES AO DESENVOLVIMENTO DE UMA POÉTICA, NÃO POR ACASO OS NOMES DE SUAS MOSTRAS, QUE GERALMENTE CORRESPONDEM A SÉRIES TMA´TICAS, GUARDAM SEMELHANÇA COM TÍTULOS DE OBRAS NARRATIVAS. MATA MATO MATA É UMA NARRATIVA DE ATUALIDADE FLAGRANTE. AQUI, SEM PROPRIAMENTE FAZER USO DO RECURSO PANFLETÁRIO, FÚLVIA TRANSMITE UM FORTE SENTIDO DE PROTESTO SEM DEIXAR DE PRODUZIR ARTE LÍRICA DA MELHOR QUALIDADE.
O PONTO CENTRAL DO CONJUNTO É O TRÍPTICO QUE, DE UM MODO ESPLÊNDIDO E ATUALÍSSIMO, VALORIZADO PELO MAGISTRAL USO DO PASTEL E DO ACRÍLICO, COM LARGOS RASGOS DE ESPÁTULA. NOTE-SE QUE O TRÍPTICO SE DESDOBRA EM UMA SÉRIE DE CINCOC LÂMINAS DE PAPEL, DE DOIS METROS CADA, SENDO A QUINTA UM SIMULACRO DAS ANTERIORES, COMO UMA ESPÉCIE DE FOTOGRAFIA NEGATIVA DA NATUREZA DEGRADADA E A CAMINHO DO ESGOTAMENTO.
É UMA ADVERTÊNCIA, MAS É SOBRETUDO ARTE EM SEU MAIS ALTO GRAU.
EUSTÁQUIO GOMES
ESSA É MINHA FORMA DE FALAR SOBRE A NATUREZA. UM TRAÇO, UM MATO, UM RISCO, UMA RABISCO – UMA COR EXTRAÍDA DO PASTEL, ATÉ ESGOTAR NA FASE, A FORMA EXISTENTE EM MIM.
F.G.